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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A menina que só usava vestidos azuis


Uma vez uma menina decidiu que a partir daquele dia só ia usar vestidos azuis, a família e os amigos primeiro ficaram um pouco chocados, não percebiam a decisão da menina, tinham medo que isso significasse que ela era estranha, que não se enquadrasse mais…

Choveram os comentários… Mas agora só usas azul? Não és triste assim? Não gostavas de usar um vestido amarelo como eu? Todas as prendas vinham acompanhadas de algum comentário… "Comprei-te este vestido, agora só usas azul é muito difícil escolher algo". 

A menina explicava que adorava andar de azul, explicava que era feliz de vestido, que não sentia falta de outras cores, de outras roupas… mas continuava a receber os mesmos olhares. 

Com o tempo foram percebendo que a menina era a mesma, que era feliz no seu vestido azul… os comentários deixaram de ser apenas sarcásticos e começaram a roçar uma falsa compreensão, diziam que a menina era livre de se vestir de azul se era feliz assim, que tínhamos que respeitar a sua decisão.

Nunca ninguém perguntou à menina porque se vestia só de azul, nunca ninguém se deu ao trabalho de perceber o porquê dessa decisão. Talvez as pessoas tivessem demasiado ocupadas a criticar, se calhar quando nos juntamos para escarnecer de alguém que é diferente sentimos que isso nos dá mais força enquanto grupo, que encaixamos melhor. “Só estava a brincar, tu fazes o que quiseres” – dizem eles no final, como se isso aliviasse a sua consciência… 

A menina ao início não queria arranjar problemas, no fundo só queria poder usar o seu vestido azul sem se sentir afastada de grupo, queria poder ser o que era e mesmo assim fazer parte, afinal são pessoas que ela ama, com o tempo foi percebendo que isso não era possível… 

Quando se é vegan olham para nós como a menina vestida de azul, como se fosse uma qualquer excentricidade, o motivo não importa as razões não interessam, és diferente e isso incomoda.
Ao princípio sorris aos comentários que te fazem quando na verdade te apetece gritar ao mundo que não estás errada, tentas dar breves explicações, dicas… pensas que se as pessoas soubessem iam perceber, não iam participar em algo que condena outros à fome, que condena os netos dos seus netos, que condena o nossa mundo já escasso em recursos e ainda milhões de animais a uma vida de sofrimento, que nascem para morrer.

Depois percebes que não interessa, ninguém te ouve, ninguém quer na verdade saber. Desde que a sua vida não mude, desde que continuem a encaixar está tudo bem. Por dentro as tuas entranhas enrolam cada vez que ouves alguém falar cheio de amor acerca do seu cão ou gato, acerca da injustiça de caçar um tal leão, acerca de quão errado é abandonar ou maltratar um animal, partilham lindos posts com lindo animais… mas chegam a casa e comem outros animais, quem somos nós para decidir quais os que merecem morrer e os que devem ser protegidos? Quem somos nós para criticar o comercio chinês de carne de cão??? Qual o problema de comer cão? É porque o focinho deles é mais fofo que o dos porcos? Com base em inteligência não pode ser porque o porco aí ganha aos pontos! Aliás dada a actual sobre-população de cães e gatos faria muito mais sentido come-los a eles! Por um lado gastamos recursos para sustentar a sobre-população de uns e por outro gastamos mais recursos a criar artificialmente outros para os comer! Economicamente também não faz sentido! Deve ter mesmo a ver com o prémio para o focinho mais fofo… nesta caso a vida!

E nada disto importa, digas o que disseres… alguns até vão dizer que percebem, que de facto é horrível, mas por alguma razão que não percebes vão continuar a conseguir colocar carne nas suas bocas sem que qualquer sofrimento ou culpa que lhes chegue. Afinal ir contra os que os outros fazem é chato e não dá jeito.

Podes querer explicar que choras por dentro, que te revoltas sempre que todos à tua volta impávidos se deliciam em morte, sem se quer mostrarem o respeito de naquela única refeição que fazem contigo não trazerem o seu egoísmo para cima da mesa… Mas não vai valer a pena, não vão mudar nada por ti (nem pelo mundo, nem por ninguém), não vão levar a sério o que sentes, vais sentir-te sempre à parte, afinal és só mais uma menina que decidiu usar apenas vestidos azuis.

Boas veganices!

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